A inteligência artificial generativa (IA generativa) é uma tecnologia revolucionária que está impactando profundamente a maneira como o trabalho jurídico é realizado e desafiando o modelo de negócios tradicional entre escritórios de advocacia e clientes.
Embora ainda haja muita incerteza, é provável que, dentro de uma década, a IA generativa transforme departamentos jurídicos corporativos e escritórios de advocacia de maneiras profundas e únicas.
O impacto atual da IA generativa no setor jurídico
A IA generativa já é uma realidade no setor jurídico. Tanto departamentos jurídicos corporativos quanto escritórios de advocacia de todos os tamanhos já começaram a experimentar essa tecnologia, utilizando desde ferramentas voltadas ao público, como o ChatGPT, até soluções mais voltadas para o ambiente empresarial, como o Copilot, da Microsoft, e outras tecnologias específicas do setor.
Essa fase de experimentação está evoluindo para uma etapa de planejamento mais estratégico, com a criação de políticas e procedimentos específicos que regulamentam o uso da IA generativa no ambiente jurídico. Isso reflete uma percepção crescente de que mudanças radicais estão a caminho.
De acordo com o relatório Thomson Reuters Future of Professionals, 70% dos profissionais jurídicos acreditam que a IA e a IA generativa terão um impacto transformador na profissão jurídica nos próximos 5 anos, superando outras tendências como economia, regulamentação e ESG (ambiental, social e governança).
As 3 ondas de transformação no setor jurídico
1ª onda: adoção e experimentação de IA generativa
A primeira onda de transformação já está em andamento, com a adoção e experimentação de IA generativa se espalhando por departamentos jurídicos e escritórios de advocacia de diversos tamanhos.
Nos próximos três anos, espera-se que o setor jurídico tenha acesso a ferramentas de IA generativa mais confiáveis e avançadas, possibilitando a transição da experimentação para a implementação prática.
Inicialmente, essas tecnologias serão aplicadas em funções de back-office e suporte, ajudando a otimizar custos de mão de obra e reduzir a necessidade de contratações de novos associados e outros colaboradores.
A princípio, a aplicação da IA generativa será concentrada em funções não faturáveis. Contudo, à medida que a tecnologia evolui e se torna capaz de realizar tarefas mais complexas, seu impacto se expandirá para outras áreas.
Dentro de três a cinco anos, mudanças no modelo de negócios começarão a emergir, com departamentos jurídicos corporativos pressionando seus provedores externos a entregar resultados mais rapidamente e de forma mais eficiente.
2ª onda: mudanças no modelo de negócios jurídicos
A segunda onda de transformação, prevista para ocorrer entre três e cinco anos, trará mudanças significativas no modelo de negócios do setor jurídico.
Com a IA permitindo a execução mais eficiente de tarefas jurídicas, a hora faturável deixará de ser o método mais econômico de capturar valor. Isso levará os escritórios de advocacia a repensarem seus modelos de cobrança, buscando compartilhar as economias de eficiência geradas pela tecnologia avançada.
Em resposta a essas mudanças, grandes escritórios de advocacia buscarão aumentar suas receitas, direcionando seus funcionários, inclusive os juniores, para trabalhos de maior valor.
A IA também permitirá a padronização de trabalhos repetitivos, que antes não eram lucrativos. Por outro lado, escritórios de pequeno e médio porte poderão usar a IA generativa para expandir suas práticas sem a necessidade de aumentar a equipe, adaptando-se às novas exigências do mercado.
3ª onda: automação e desintermediação
A terceira onda de transformação, que ocorrerá entre cinco e dez anos, verá uma automação ainda maior dos serviços jurídicos e, em alguns casos, a desintermediação parcial ou total dos profissionais jurídicos.
A IA generativa será capaz de lidar com tarefas cada vez mais complexas, e os profissionais jurídicos atuarão como supervisores e estrategistas, enquanto a IA executará o trabalho diário.
Com a crescente automação, alguns clientes poderão ignorar completamente os escritórios de advocacia, confiando em soluções tecnológicas para atender às suas necessidades jurídicas.
Essa postura abrirá caminho para o surgimento de soluções jurídicas "faça você mesmo", aumentando o acesso à justiça em mercados mal atendidos. Para sobreviver, os escritórios de advocacia precisarão aprender a combinar a IA com a experiência humana, oferecendo serviços que atendam às expectativas de uma clientela cada vez mais familiarizada com a tecnologia.
A implementação da IA generativa na realidade jurídica
A adoção e o impacto da IA generativa variarão de acordo com o tipo e o tamanho das organizações jurídicas.
Departamentos jurídicos corporativos
Na vanguarda do mercado, os departamentos jurídicos corporativos têm maior capacidade tecnológica e acesso a conjuntos de dados maiores, o que pode transformar sua estrutura e produto de trabalho diário.
Como essas organizações continuam a enfrentar pressões de custo, é provável que funções juniores sejam as primeiras a ser automatizadas, refletindo uma mudança no perfil das equipes jurídicas.
Grandes escritórios de advocacia
Grandes escritórios de advocacia, com acesso a recursos tecnológicos robustos, poderão alavancar suas economias de escala para implementar produtos tecnológicos alimentados por IA generativa, capturando trabalho que antes não era lucrativo. Essas bancas poderão utilizar dados de nicho como um diferencial competitivo, mantendo-se à frente no mercado.
Escritórios de médio e pequeno porte
Escritórios de advocacia de médio porte usarão a IA para automatizar tarefas repetitivas, permitindo a expansão de suas práticas sem a necessidade de novas contratações.
Já os pequenos escritórios poderão utilizar a IA generativa para conquistar novos negócios, automatizando processos que antes eram realizados por associados juniores. Isso permitirá que esses escritórios ampliem sua base de clientes sem aumentar o número de funcionários.
A IA generativa está moldando um novo futuro para o setor jurídico, com transformações que impactarão profundamente a maneira como os serviços jurídicos são prestados, cobrados e consumidos.
Diante desse cenário, é essencial que escritórios de advocacia e departamentos jurídicos corporativos comecem a se preparar para essas mudanças agora, adaptando-se às novas tecnologias para se manterem competitivos em um mercado cada vez mais tecnológico.
No próximo post desta série sobre IA generativa no Direito, serão abordados o conceito, a importância, as oportunidades e os riscos da IA generativa na pesquisa jurídica. Não perca!
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