A invasão da Ucrânia pela Rússia e as sanções impostas a ela por isso, somadas às novas paralisações relacionadas à pandemia na China, são os eventos mais recentes com potencial para abalar o comércio exterior e as cadeias de suprimentos globais.
Além disso, é preciso considerar que a guerra comercial China-EUA e outras interrupções, relacionadas à pandemia e ao clima, tendem a acelerar o movimento das empresas ocidentais para reduzir sua dependência da China a componentes e produtos acabados e, da Rússia, a transporte e matérias-primas.
Neste contexto, estratégias de abastecimento mais localizadas ou regionais devem surgir. Se a China decidir apoiar a Rússia no conflito com a Ucrânia, isso apenas alimentará esse movimento.
Sabendo de todos os aspectos mencionados, mostramos, neste artigo, como o conflito armado pode impactar na gestão dos processos de comércio exterior.
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Impactos do conflito armado na Europa para o comércio exterior
Após o início do conflito armado, o setor sentiu as consequências de imediato. Um dos impactos foi a alta do preço do petróleo que extrapolou o limite de US$ 100 pela primeira vez em mais de sete anos.
Além disso, a Rússia é o 10º maior parceiro comercial do Brasil. Outro impacto é sentido em virtude da dependência do Brasil da importação de fertilizantes da Rússia e da alta nos preços por conta dos problemas de logística e sanções. A nação russa responde por cerca de 85% das necessidades brasileiras, além de ser o maior fornecedor de matérias-primas para adubos.
Sendo assim, no agronegócio, os produtores rurais de soja e outras commodities agrícolas devem sofrer com a crise e a insuficiência de fertilizantes. Além disso, vale destacar que a Rússia é um grande importador de carnes brasileiras. Dessa maneira, possíveis sanções financeiras colocadas ao país russo podem comprometer esse comércio.
De outro modo, as rotas também impactam a dinâmica do comércio exterior. Na Ucrânia, militares suspenderam as operações em seus portos quando as forças russas invadiram o país por terra e mar.
Considerando o risco de passagem pela região, devem ser definidos desvios, que desafiam a logística internacional, junto com a própria alta dos combustíveis. Com a confirmação do conflito armado na Europa, as embarcações mercantes internacionais saíram da área para águas mais seguras e as taxas de navios-tanque tiveram saltos históricos nos ganhos.
Além disso, as projeções indicam que sanções mais duras contra a Rússia e interrupção de commodities produzidas e exportadas por empresas devem ser confirmadas.
Comércio exterior: da globalização para a localização
Diante dos impactos gerados pelo conflito armado na Europa, muitas empresas que atuam com comércio exterior estão aumentando o interesse nas estratégias da cadeia de suprimentos local.
O recente acordo da Électricité de France (EDF) para comprar parte do negócio de energia nuclear da GE exemplifica essa mudança da globalização para a localização. A França está aumentando sua dependência de usinas nucleares, que já geram 70% de sua eletricidade. Para tanto, vem buscando controlar melhor toda a cadeia de suprimentos dessas plantas.
Outro exemplo é o equipamento de fabricação de semicondutores. Os governos dos EUA e da Holanda impediram a ASML, a maior produtora mundial de equipamentos de litografia usados para fabricar chips de computador, de vender suas máquinas mais avançadas para a China.
Por fim, o impacto surpreendentemente grande da guerra na Ucrânia na fabricação de automóveis na Europa destacou o risco associado à atual cadeia de suprimentos global. Por exemplo, a Volkswagen e a BMW estão fechando linhas de montagem na Alemanha devido à escassez de chicotes elétricos fabricados na Ucrânia pela empresa alemã Leoni. E a fabricante de pneus Michelin anunciou recentemente que poderia fechar algumas fábricas na Europa, devido a problemas de logística criados pela invasão da Ucrânia pela Rússia.
Neste contexto, é certo que as montadoras europeias estão analisando com atenção os riscos associados aos fornecedores internacionais. Uma das alternativas é comprar mais localmente, mesmo que isso exija aumentos adicionais de preços. Na prática, essa é uma oportunidade de a Europa fortalecer seu setor manufatureiro interno.
Novos modelos no comércio exterior a partir da parceria entre indústria e governo
A indústria sozinha não será capaz de enfrentar muitos dos desafios atuais da cadeia de suprimentos. Os gestores públicos precisam participar e contribuir com novas iniciativas e estratégias.
Nos Estados Unidos, os governos federal e estaduais estão aumentando os investimentos em portos, aeroportos e outras infraestruturas. O US CHIPS Act (que o Congresso ainda não financiou) e o European Chips Act são exemplos de esforços do governo para reduzir a dependência de Taiwan e Coréia do Sul para semicondutores. O conflito na Ucrânia também deve impulsionar a Aliança Europeia de Baterias, que a União Europeia formou em 2017 para tornar o continente líder na indústria de baterias avançadas.
Até que os investimentos em infraestrutura nas regiões locais ocorram, as empresas devem testar suas cadeias de suprimentos e buscar estratégias para torná-las mais resilientes aos riscos. A única coisa certa, agora, é que os desafios para as cadeias de suprimentos globais aumentarão no futuro próximo.
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