Ao iniciar seu mandato em janeiro de 2025 Donald Trump, novo presidente dos Estados Unidos, apresentou suas prioridades políticas, as quais sinalizou durante sua campanha à presidência. Segundo ele com o objetivo de fortalecer a economia americana, reformar leis de imigração e redesenhar as relações internacionais e algumas já foram colocadas em prática:
Medidas concretizadas
Saída do Acordo de Paris: Trump retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris sobre o Clima, retomando uma medida de seu primeiro mandato (2016-2020). O acordo visa limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
Retirada da Organização Mundial da Saúde (OMS): Ele assinou uma ordem para retirar os EUA da OMS, afirmando que o país não deve continuar como principal doador da organização.
Imposição de tarifas sobre produtos canadenses e mexicanos: Trump anunciou a aplicação de tarifas de 25% sobre produtos vindos desses países, com vigência a partir de fevereiro.
Perdão a condenados pelo ataque ao Capitólio: Ele assinou um decreto perdoando cerca de 1.500 pessoas condenadas pelo ataque de 6 de janeiro de 2021.
Acordo de paz com a Rússia: Convocou o presidente russo Vladimir Putin para negociar um cessar-fogo e buscar uma solução pacífica para a guerra na Ucrânia.
Revogação de medidas contra colonos israelenses: Trump anulou uma ordem executiva de Joe Biden que punia colonos israelenses por violência contra palestinos na Cisjordânia.
Encerramento de portal sobre aborto: O site governamental “ReproductiveRights.gov” foi fechado, marcando uma mudança significativa na política de saúde reprodutiva dos EUA.
Mudanças no Serviço Digital: O serviço foi renomeado para Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), com Elon Musk liderando os esforços para reduzir a burocracia.
Encerramento da aplicação CBP One: A ferramenta que facilitava agendamentos de imigrantes foi desativada, e os horários de entrevistas previamente marcados foram cancelados.
Outras medidas anunciadas
Reconhecimento de gêneros: Uma ordem executiva passará a reconhecer oficialmente apenas dois gêneros: masculino e feminino, revertendo políticas anteriores.
Emergência na fronteira sul: Trump declarou emergência na fronteira com o México, prometendo barrar entradas ilegais e iniciar a deportação de milhões de imigrantes considerados criminosos.
Controle do Canal do Panamá e renomeação do Golfo do México: Trump planeja assumir o controle do Canal do Panamá e renomear o Golfo do México para “Golfo da América”.
Designação de cartéis como terroristas: Ele anunciou que cartéis de drogas serão tratados como organizações terroristas estrangeiras.
Emergência energética: Trump planeja aumentar a produção de petróleo e gás natural, com o objetivo de reduzir os preços da energia e exportar excedentes.
Revisão do sistema comercial: Anunciou tarifas para países estrangeiros, com o intuito de fortalecer a indústria americana.
Liberdade de expressão: Prometeu eliminar censura governamental e restabelecer o direito à liberdade de expressão.
Exploração espacial: Planeja colocar a bandeira americana em Marte, contando com o apoio de Elon Musk e da SpaceX.
A visão dos Estados Unidos, que historicamente importam mais do que exportam, é aumentar sua influência ao substituir tarifas globais por suas próprias tarifas de importação. Acredita-se que, com essa estratégia, outros países com exportações significativas possam ser mais cautelosos ao retaliar com aumentos em suas tarifas.
Porém, essa interpretação não é unânime e sim considerada uma das medidas mais polêmicas, tudo porque são medidas vistas como uma afronta ao sistema global de livre comércio, utilizado desde a Segunda Guerra Mundial. Para muitos especialistas, as ações de Trump podem causar uma mudança na forma do comércio global, devido às tarifas altas, confrontando as regras comerciais estabelecidas pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
Tudo isso ocorre porque o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), criado em 1947, regula o comércio mundial através da Organização Mundial do Comércio (OMC), estabelecida em 1993. Após décadas de negociações multilaterais, a OMC tem como princípio de que todos os países-membros apliquem as mesmas tarifas, com o objetivo de mantê-las baixas. Os Estados Unidos desempenharam um papel importante nessas negociações. Nesse contexto, a OMC enfrenta um grande desafio.
Resumidamente, em 1947, eram poucos os países industrializados. Assim, os países em desenvolvimento, com a preocupação de não terem a oportunidade de desenvolver suas indústrias, persistiam em ter tarifas mais altas para equilibrar as importações industriais, o que foi conquistado juntamente com os subsídios para setores agrícolas, buscando serem autossuficientes em alimentos.
Uma das justificativas do novo presidente dos Estados Unidos é que dentro das regras do GATT, ainda são considerados como países em desenvolvimento a China e a Índia, atualmente entre as maiores economias do mundo. Desta forma, sinaliza que países em desenvolvimento com tarifas altas podem ser atingidos por tarifas americanas igualmente altas. Na contramão, China e Índia, rebatem que, apesar do grande crescimento industrial, suas populações ainda possuem renda média baixa e querem manter-se primordialmente autossuficientes em alimentos.
Diante desse cenário, a Europa, bem como a maioria dos países em desenvolvimento, precisa buscar o mais rápido possível ter superávits comerciais com os Estados Unidos para arcar com seus grandes déficits comerciais com a China, a qual caso venha a retaliar as tarifas do presidente dos Estados Unidos, poderá estimular uma guerra comercial global, além de condenar a OMC, que tanto contribuiu para seu acelerado crescimento.
Outra perspectiva é a possibilidade de outros países decidirem abandonar as tarifas globais e começarem a aplicar tarifas de forma unilateral, o que pode causar um efeito negativo, aumentando o preço para todos e colocando em risco a ideia do livre comércio, onde consumidores compram dos produtores de menor custo.
Para o ex-secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, apesar de ser de uma forma desordenada, a decisão em relação ao aumento das tarifas é a busca de uma ideologia de reindustrialização dos Estados Unidos, sendo assim, as ameaças e negociações farão parte do seu mandato com o objetivo de proteger a indústria americana.
Projeto "Plano Justo e Recíproco"
O projeto de Trump é denominado "Plano Justo e Recíproco", um documento que visa "ajustar os desequilíbrios históricos no comércio internacional e assegurar equidade em todos os aspectos".
México e Canadá também estão na mira do projeto americano, tudo porque o governo Trump quer diminuir as vantagens dos países vizinhos, que têm mão de obra mais barata que a dos EUA, e consequentemente, conseguem obter maiores lucros e preços mais baixos. Além disso, os EUA compram muito mais do que vendem para México e Canadá, o que é considerado um subsídio o que garante preços mais baixos e alto consumo pelos americanos. Com essas medidas, o governo americano almeja que os norte-americanos substituam os produtos importados pelos produtos americanos.
Seguindo nesse raciocínio, Donald Trump confirmou a aplicação de tarifas de 25% para todas as importações de aço e alumínio oriundos do Canadá e México, porém devido a um acordo entre as partes, a tarifa tem previsão para entrar em vigor a partir de abril.
No caso da China, Trump justifica que as tarifas impostas são uma resposta ao déficit comercial com o país, além de uma tentativa de fazer a China interromper o fluxo da droga fentanil para os EUA.
Trump apesar de não dizer quando, ameaça impor taxas também à União Europeia, a qual já vem demonstrando insatisfação sobre as tarifas ao aço e alumínio, seria uma reposta do presidente americano contra as medidas que a UE vem preparando contra produtos americanos, como o Bourbon, jeans e motocicletas.
Trump também afirmou que, caso decidam substituir o dólar americano por outra moeda em suas transações, os países do BRICS — grupo de coordenação econômica formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — podem sofrer uma taxa de no mínimo 100% sobre seus produtos.
As Reações do Canadá, China e México às Políticas Comerciais de Trump
Canadá
Em meio à disputa presidencial os holofotes estão sobre as medidas adotadas pelos EUA. O país vê como desastrosas as tarifas de 25% dos EUA previstas para serem aplicadas sobre todas as importações do Canadá para os EUA, que podem perder até 1 milhão de empregos além da possibilidade de entrar em recessão. Os canadenses, inclusive estão deixando de comprar produtos americanos em supermercados e até cancelando viagens aos EUA, como resposta. Caso os EUA insistam nesse imposto, o Canadá já declarou que uma tarifa de 25% será imposta sobre US$ 107 bilhões em importações de produtos americanos pelo Canadá, que será aplicada de forma escalonada. Primeiro serão produtos como suco de laranja, pasta de amendoim, vinho e café, e posteriormente carros, caminhões, aço e produtos de alumínio.
China
As novas tarifas impostas pelo governo da China contra os Estados Unidos, em retaliação ao “tarifaço” anunciado pelo presidente norte-americano Donald Trump, entraram em vigor no dia (10/3). Produtos como frango, trigo e milho terão tarifas de 15%, e no caso de soja, carne suína e frutas, terão uma tarifa de 10%. Além de suspender as importações de soja de três entidades dos EUA e a compra de toras de madeira. No entanto, de acordo com o governo chinês, as mercadorias enviadas antes de 10/3 e importadas até o dia 12 de abril não serão atingidas pelas novas taxas. Em fevereiro, Donald Trump anunciou tarifas de 10% sobre praticamente todas as importações da China, o qual foi elevado para 20% no início de março.
México
O México está preparando medidas “tarifárias e não tarifárias” como forma de retaliação às tarifas de 25% impostas por Donald Trump sobre as importações de produtos mexicanos. A ideia é que sejam aplicadas tarifas contra as importações dos EUA, que podem variar de 5% a 20%, sobre carne suína, queijo, produtos frescos, bem como aço e alumínio manufaturados, a indústria automobilística inicialmente ficaria isenta.
Impactos para o Brasil (Oportunidades e riscos)
O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os Estados Unidos, ficando atrás apenas do Canadá.
Além do aço e do alumínio, o governo americano apontou o etanol brasileiro como possível alvo para tarifas recíprocas que podem ser impostas contra todos os países que sobretaxam produtos norte-americanos.
O novo presidente dos EUA vê como injusto o tratamento dado às exportações americanas, argumentando que que o etanol brasileiro paga uma tarifa de 2,5% para entrar no mercado americano, enquanto o etanol americano paga 18% para entrar no mercado brasileiro.
Apesar de o Brasil estar abaixo da média mundial, o país tem demonstrado avanços na abertura de mercados internacionais para o agronegócio, o que tem influenciado a proporção do comércio exterior em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), superando os Estados Unidos nesse aspecto.
No entanto, o Brasil impõe tarifas mais altas do que os EUA, com uma taxa média de 12,4% sobre importações, enquanto a tarifa americana é de 2,7%. O governo americano tem usado esses dados para fazer ameaças tarifárias e como uma ferramenta de negociação.
Apesar dessa ameaça, a estratégia do governo brasileiro é manter a calma, buscar o diálogo e explorar possíveis negociações. Os líderes do governo enxergam as medidas impostas pelos EUA como uma oportunidade para o Brasil suprir mercados que deixem de comprar dos EUA. No entanto, à medida que o Brasil conquista mais mercados, há a possibilidade de que os EUA decidam impor tarifas ao Brasil, algo que pode ocorrer antecipadamente.
Os Estados Unidos ocupam a posição de segundo maior parceiro comercial do Brasil. Na relação comercial entre os dois países a balança comercial é favorável aos norte-americanos, que em 2024 obtiveram um saldo positivo de US$ 283,8 milhões nas transações com o Brasil. Ainda assim, o mercado dos EUA é de grande relevância para o Brasil. Com uma participação de 12% nas exportações brasileiras, os Estados Unidos adquiriram US$ 40,368 bilhões em produtos brasileiros em 2024. Entre os principais produtos exportados para os EUA estão os "produtos semi-acabados, lingotes e outras formas primárias de ferro ou aço". Este grupo é o 14º mais vendido pelo Brasil e ocupa a 8ª posição na indústria de transformação. O Brasil é o segundo maior fornecedor de aço para os EUA, que, em contrapartida, são os maiores compradores desse material, gastando US$ 3,5 bilhões em 2024.
O ex-secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, aponta dois cenários principais no caso de impacto para o Brasil e outros países em desenvolvimento: a busca por mercados alternativos e a possibilidade de aumento do protecionismo, o que é ruim para todos.
Neste cenário, as negociações avançadas entre o Mercosul e a União Europeia, assim como o renovado interesse do Canadá em negociar com o bloco sul-americano, representam pontos positivos para o Brasil. Além disso, segundo especialistas, caso haja taxação sobre o aço, uma alternativa para o Brasil seria incentivar o aumento do consumo doméstico de aço.
Por outro lado, caso a taxação traga uma queda na produção desses produtos, haverá perda econômica, de produtividade e de empregos nesses setores e nas demais áreas interligadas ao aço e ao alumínio, segundo analistas.
Essa medida não é inédita, durante seu primeiro mandato, Trump impôs tarifas sobre aço e alumínio, mas posteriormente concedeu cotas de isenção para parceiros como Canadá, México e Brasil, que são os principais fornecedores desses materiais.
É importante considerar a possibilidade de um aumento no protecionismo global e os potenciais efeitos inflacionários das medidas adotadas por Trump, que podem resultar em elevação das taxas de juros e impactar a economia mundial.
Outro risco para o Brasil seria o Banco Central elevar a taxa Selic devido à possibilidade de valorização do dólar e à retirada/saída de capitais (fuga de capital) o que traria drásticos efeitos para a economia brasileira.
O Brasil também pode ser afetado pelas medidas impostas à China, já que com os EUA deixando de comprar produtos chineses, esses vão buscar outros mercados, como o Brasil e outro ponto seria a desaceleração da economia da China que é um mercado comprador de produtos brasileiros.
Para as empresas brasileiras, o cenário é de incerteza. Aquelas que dependem de importações de produtos americanos, como máquinas e equipamentos, podem enfrentar custos mais altos, o que consequentemente será repassado aos consumidores.
Impactos globais inclusive para os EUA (Tarifaço de Trump)
Apesar do discurso de Trump em justificar que a aplicação de tarifas tem como objetivo minimizar déficits comerciais com seus parceiros e problemas nas fronteiras, como a travessia de migrantes sem documentos e o tráfico de fentanil. O resto do mundo está apreensivo com essas medidas, inclusive com impactos para o próprio país. O aumento de tarifas de importação e a política anti-imigração de Trump podem gerar mais inflação nos EUA.
Por exemplo, no caso do aço se tornar mais caro para os Estados Unidos ou até mesmo a falta dele refletirá negativamente para economia americana. Alguns especialistas acreditam que esse chamado “tarifaço” pode ser uma tática para forçar concessões dos países em negociações em outras áreas.
Outro ponto é a abdicação de impostos com o objetivo de estimular as empresas norte-americanas, o que pode gerar desafios para as finanças públicas do país.
Diante disso, será difícil controlar os preços, o que trará juros altos para o país e consequentemente, mudanças significativas em todo o fluxo de investimentos no mundo que tem como parâmetro o dólar e os títulos públicos americanos (Treasuries).
Perspectivas para o Futuro: O Que Pode Acontecer?
Em resumo, as expectativas em relação às tarifas comerciais impostas pelo novo presidente dos EUA giram em torno dos possíveis impactos econômicos. Essas tarifas podem levar ao aumento dos preços dos produtos, repassando custos ao consumidor e resultando em inflação mais alta e uma redução no poder de compra.
A cadeia de suprimentos global pode ser afetada, causando incertezas econômicas, especialmente em países com menor poder aquisitivo.
Retaliações e medidas protecionistas também são preocupantes, afetando tanto as empresas americanas quanto o comércio global.
As relações diplomáticas dos EUA com seus principais parceiros comerciais podem sofrer efeitos a longo prazo, influenciando tanto a economia quanto as relações políticas.
Em conclusão, o cenário atual é marcado por incertezas e oportunidades. Enquanto alguns setores se beneficiam da moderação tarifária, outros avaliam os riscos de possíveis retaliações. É fato que o novo presidente dos EUA está empenhado em reestruturar sua política comercial, utilizando de estratégias que, embora controversas, visam alcançar seus objetivos.