O ano de 2025 se apresenta como um período de desafios e oportunidades para o comércio exterior.
As incertezas geopolíticas, as flutuações macroeconômicas e a transformação digital em curso reconfiguram o cenário global, exigindo das empresas uma postura estratégica e adaptativa.
Neste artigo, analisaremos as principais tendências que impactarão o comércio internacional em 2025, desde o cenário macroeconômico e geopolítico até os avanços tecnológicos e regulatórios, com foco especial nas perspectivas e recomendações para o Brasil navegar por este ambiente complexo e capitalizar as oportunidades emergentes.
Acompanhe-nos nesta análise e prepare-se para as dinâmicas do comércio global.
Cenário macroeconômico: perspectivas para o comércio global
Diante das incertezas geradas pelos conflitos no Oriente Médio e pela instabilidade política global, a Organização Mundial do Comércio (OMC) revisou sua projeção de crescimento do comércio global para 2025.
A expectativa, divulgada em meados de maio de 2024 e que apontava para um crescimento de 3,3%, foi ajustada para 3,0%.
Esse cenário contrasta com o desempenho do comércio de serviços, impulsionado, segundo a OMC, pela transformação digital.
O aumento do comércio eletrônico e das transações digitais permite que as empresas de serviços alcancem novos mercados e consumidores com mais eficiência, reduzindo custos e aprimorando a experiência do cliente.
No primeiro semestre de 2024, por exemplo, o comércio mundial de mercadorias cresceu apenas 0,1%, enquanto o de serviços comerciais teve um aumento de 8% entre janeiro e março, na comparação com o mesmo período do ano anterior.
A OMC destaca ainda que os serviços entregues digitalmente representaram mais de 54% das exportações totais de serviços e quase 14% de todas as exportações de bens e serviços em 2023.
Geopolítica em foco: impacto dos conflitos mundiais no comércio internacional
Como já discutimos em nosso artigo referente às Perspectivas para 2024, a instabilidade no comércio mundial, agravada pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, agora se intensifica com os conflitos no Oriente Médio.
O aumento das tensões em Israel, Gaza e no Líbano contribui para essa instabilidade, com potencial para desestabilizar ainda mais a economia global.
Nesse cenário, observamos em 2024 uma crescente regionalização do comércio, com economias de ideologias semelhantes buscando fortalecer suas relações comerciais.
Essa tendência impulsiona a regionalização das cadeias produtivas, criando oportunidades para empresas que se adaptarem a essa nova dinâmica, aproximando-se de fornecedores e consumidores em mercados regionais.
Para a OMC, políticas comerciais que promovam a cooperação internacional e a redução de barreiras são essenciais para um crescimento mais equilibrado e sustentável.
Nesse sentido, a diversificação das cadeias de suprimentos surge como uma estratégia importante para as empresas mitigarem riscos de interrupção causados por crises geopolíticas ou ambientais.
Investir em tecnologias como inteligência artificial e blockchain também se mostra fundamental para otimizar os processos operacionais e aumentar a eficiência em 2025.
Oportunidades e desafios para o Brasil: perspectivas para o mercado brasileiro
Esse cenário global projeta para o Brasil em 2025 um panorama de desafios e oportunidades.
A ascensão da Ásia no comércio global, por exemplo, abre perspectivas para os exportadores brasileiros, principalmente nos setores de commodities e produtos agrícolas, compensando, em parte, os desafios enfrentados nos mercados europeus.
A China, como principal parceiro comercial, continuará sendo um impulsionador importante para as exportações brasileiras.
Contudo, a taxa de câmbio do real frente a outras moedas merece atenção em 2025, pois a valorização cambial pode impactar a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional.
Parcerias estratégicas: avanços e desafios nos acordos internacionais
Em 6 de dezembro de 2024, poucos dias antes do fim do ano, líderes do Mercosul e da União Europeia anunciaram em Montevidéu a conclusão das negociações do Acordo de Parceria. O acordo, focado em compromissos inovadores e equilibrados, busca responder aos desafios do cenário econômico internacional. Com a conclusão das negociações, Mercosul e União Europeia podem agora iniciar a preparação dos textos finais para posterior assinatura e ratificação. A concretização desse acordo tem o potencial de impactar significativamente o comércio exterior entre os blocos, reduzindo barreiras tarifárias e não tarifárias e promovendo um aumento no fluxo de bens e serviços
O horizonte de 2025 também apresenta desafios geopolíticos complexos, com destaque para a persistência de conflitos internacionais.
Como já mencionado, o conflito entre Rússia e Ucrânia, as crescentes tensões entre grandes potências e a instabilidade no Oriente Médio são exemplos emblemáticos desse cenário conturbado.
Além do mais, os riscos ambientais, intensificados pelas mudanças climáticas, representam uma ameaça significativa.
Eventos climáticos extremos impactam diretamente as operações portuárias, gerando interrupções nas cadeias de suprimentos e afetando a produção global.
Diante desse panorama de instabilidade e incerteza, a concretização de novos acordos comerciais enfrenta desafios consideráveis.
Ainda assim, espera-se que o Brasil intensifique as negociações visando ampliar o acesso a mercados internacionais e, consequentemente, reduzir barreiras tarifárias e não tarifárias.
Nova arquitetura fiscal: impactos da Reforma Tributária no comércio exterior
Os impactos da Reforma Tributária no comércio exterior serão graduais até 2033.
A importação de bens e serviços será afetada pela incidência dos seguintes tributos: Imposto de Importação, CBS, IBS, IS, Taxa Siscomex, AFRMM, Taxa Mercante e Cide-Combustíveis.
Porém, a principal mudança, com reflexos diretos no comércio exterior, reside na criação do IVA dual, composto pela Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e pelo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), além do Imposto Seletivo (IS).
Para mitigar potenciais impactos negativos dessa mudança, mecanismos como o Fundo de Compensação de Benefícios Fiscais visam preservar a competitividade de regiões que atualmente oferecem incentivos fiscais para atrair investimentos.
As empresas precisam estar atentas às mudanças e desafios, como a compreensão e o acesso aos novos benefícios, o acompanhamento das alterações legais e o investimento em mão de obra especializada e tecnologia.
Essas medidas visam garantir conformidade, eficiência fiscal e agilidade no recolhimento de tributos, permitindo que as empresas ampliem suas operações e mantenham a competitividade no mercado global.
Análise da balança comercial: desempenho e tendências
A balança comercial, termômetro da saúde do comércio exterior, reflete diretamente os impactos das flutuações da economia global e das políticas internas.
Analisar seu desempenho, compreender as tendências e projetar cenários futuros são essenciais para que empresas e governos possam se preparar para os desafios e aproveitar as oportunidades que o comércio internacional oferece.
A seguir, examinaremos os dados recentes da balança comercial brasileira, identificando os principais fatores que influenciam seus resultados e discutindo suas implicações para o cenário de 2025:
O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) divulgou, em 22 de novembro de 2024, o relatório do Indicador de Comércio Exterior (Icomex), prevendo um superávit na balança comercial brasileira entre 75 bilhões e 78 bilhões de dólares para o fechamento de 2024.
Em novembro de 2024, as exportações brasileiras alcançaram 28,02 bilhões de dólares, um crescimento de 0,5% em relação a novembro de 2023. As importações, por outro lado, apresentaram alta mais expressiva, com aumento de 9,9%, totalizando 20,99 bilhões de dólares. Esse cenário resultou em um superávit comercial de 7,03 bilhões de dólares, valor 20% inferior ao registrado em novembro do ano anterior. A corrente de comércio, somando exportações e importações, atingiu 49,01 bilhões de dólares, representando um crescimento de 4,3% no comparativo anual.
Entre janeiro e novembro de 2024, as exportações brasileiras totalizaram 312,27 bilhões de dólares, apresentando um crescimento modesto de 0,4% em comparação ao mesmo período de 2023. Já as importações, no mesmo intervalo, registraram um aumento mais expressivo, de 9,5%, alcançando 242,41 bilhões de dólares.
Como resultado, a balança comercial apresentou um superávit de 69,86 bilhões de dólares, o que representa uma queda de 22,0% na comparação anual. A corrente de comércio, por sua vez, alcançou 554,69 bilhões de dólares, um aumento de 4,2% no período.
Avanços e perspectivas do NPI
No que tange ao Novo Processo de Importação (NPI), parte integrante do Portal Único de Comércio Exterior, avanços significativos foram observados em 2024.
Coordenado pelo Governo Federal, sob a liderança da Receita Federal do Brasil (RFB) e da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o NPI, a exemplo da implementação gradual da Declaração Única de Exportação (DU-E), avança com a Declaração Única de Importação (DUIMP).
Em outubro de 2024, teve início a migração das operações de comércio exterior para a DUIMP, começando pelo modal marítimo.
A previsão é de que, no início de 2025, as operações do modal aéreo também migrem para a DUIMP. Esse planejamento escalonado prevê ainda, até o final de 2025, a migração do modal rodoviário, do regime Zona Franca de Manaus (ZFM), courier, empresas limitadas e outros processos, culminando na substituição completa do sistema LI/DI.
Impactando mais de 50 mil empresas importadoras, o Portal Único de Comércio Exterior visa substituir o Siscomex, oferecendo uma entrada única e integrada para que todos os envolvidos acessem serviços e sistemas de forma simplificada.
O objetivo do governo é modernizar e simplificar o comércio exterior, combatendo práticas ilegais e desleais, além de tornar as operações mais ágeis, confiáveis e competitivas, contribuindo para fortalecer a posição do Brasil no cenário global.
Perspectivas e recomendações: preparando-se para as dinâmicas do comércio global
Diante do cenário incerto projetado para 2025, a proatividade em acompanhar as mudanças e se adaptar às novas dinâmicas será importante para navegar pelos desafios e capitalizar as oportunidades emergentes.
Estar preparado para diferentes contextos e tendências, como a possível mudança nas políticas comerciais americanas após as eleições presidenciais, permitirá que empresas e nações se posicionem estrategicamente no comércio global.
Para o Brasil, a análise criteriosa da balança comercial dos últimos anos se torna essencial.
Compreender as flutuações no comércio com parceiros-chave, como Estados Unidos, China e Argentina, permitirá antecipar potenciais impactos das mudanças no cenário internacional e direcionar esforços para diversificar e fortalecer as relações comerciais.
Os dados de 2024, como o crescimento das exportações para os EUA e a recuperação das vendas para a Argentina em outubro, em contraste com a queda nas exportações para a China no mesmo período, ilustram a importância desse monitoramento constante.
A análise setorial, como o desempenho positivo da indústria de transformação, também contribui para um direcionamento mais preciso das estratégias de comércio exterior.
Em suma, 2025 exigirá do Brasil uma visão estratégica e adaptativa. Identificar os principais destinos das exportações brasileiras, a relevância de cada produto e a busca por novos mercados, considerando as potenciais mudanças nas políticas comerciais globais, serão fundamentais para manter a competitividade e o crescimento econômico.
Lembre-se que, nesse contexto dinâmico e complexo, a Thomson Reuters está ao seu lado, fornecendo informações estratégicas e soluções tecnológicas avançadas para que você navegue pelas incertezas do comércio exterior com inteligência e otimização, transformando desafios em oportunidades de crescimento.